O Feitiço do Tempo, Harold Ramis




Phil Connors é o “homem do tempo” do noticiário Action 9 News. Esse fato já me parece irônico o bastante. É um homem comum, tranquilo, porém egocêntrico, arrogante e prepotente. Tudo está prestes a mudar quando, no dia dois de fevereiro, ele vai até a cidade de Punxsutawney transmitir o famoso Dia da Marmota – Groundhog Day, que é o nome original do filme. A lenda é que, se a marmota acordar e vir sua sombra, os cidadãos terão mais seis semanas de inverno. Já é o quarto ano consecutivo que Phil vai até o festival, mas o odeia. Então chega uma nova produtora ao canal, Rita, que vai a Punxsutawney com Phil e Larry, o câmera, e confirma as personalidades dos personagens. Ela mostra como é gentil e como Phil é egocêntrico.

O rádio relógio antigo (o filme é de 1993), mostrando seis horas da manhã e ligando o rádio, com as notícias, é algo que você não vai esquecer. A sequência de acontecimentos depois que ele acorda resume o que seria a minha ideia de um dia ruim, e provavelmente a dele também. Então ele encontra Rita, que acha o festival maravilhoso, faz a filmagem com o maior mau humor do planeta e tenta ir embora. Porém, como a marmota (cujo nome também é Phil) previu, há uma nevasca e não é possível sair da cidade. Então o dia dele continua na mesma onda de azar de antes.

A partir de então, ele percebe que acorda sempre no mesmo dia, dois de fevereiro, dia da marmota, não importa o que faça. Todos fazem exatamente a mesma coisa e falam as mesmas palavras. Da primeira vez que isso acontece, ele parece assustado, como se tivesse ficado louco apenas, chega a procurar médicos. As reações vão mudando ao longo dos dias.

Por que este filme é tão notório? Phil mostra, do começo ao fim, como nossa atitude em relação às coisas que acontecem conosco pode ser transformadora. Além de ser um filme romântico, do tipo que mostra como o amor pode mudar as pessoas, claro. Apesar disso, o foco do filme não é o romance, a princípio, mas sim a própria vida de Phil, e o que ele faz para ficar em paz com a situação.

Ao longo do filme, ele tenta ser um homem de diferentes personalidades, e então acaba percebendo que quer viver a vida de outra maneira, e ter uma personalidade que agrade Rita. O que, para mim, só o torna uma pessoa manipuladora, que quer enganar a mulher que, na teoria, ama. Mas ok, muita gente chama isso de amor. Porém, ao longo do filme o comportamento de Phil, em relação a tudo, muda, e isso a inclui.

O caráter psicológico desse filme é aparente. O protagonista tem que voltar e voltar repetidamente até fazer as coisas certas. Ele tenta escapar de muitas maneiras diferentes, tenta ignorar e simplesmente continuar vivendo e aproveitando o que lhe foi dado, mas nada adianta. Remete ao conceito de individuação de Carl Jung, que é apresentada como espiral, onde o indivíduo está sempre preso às mesmas questões básicas, cada vez mais refinadas e específicas. É isso que o protagonista faz durante todo o filme. É curioso como ele precisa viver o dia tantas vezes para finalmente aprender a prestar atenção e valorizar certas coisas. Praticamente como todos nós.
“The wretch, concentered all in self, living, shall forfeit fair renown, and doubly dying, shall go down to the vile dust from whence he sprung, unwept, unhonored and unsung” – Sir Walter Scott
“O desgraçado, concentrado em si mesmo, vivendo, perderá o renome justo, e duplamente morrendo, deverá descer à vil poeira de onde ele saltou, sem choro, sem honra e desconhecido.” – Sir Walter Scott (tradução livre)

O filme teve grande repercussão em diferentes áreas, como filosofia, religião, economia, militar, política, televisão, música e esportes. Foi incluso até no National Film History dos Estados Unidos. E detalhe: é uma comédia. A trilha sonora foi muito bem escolhida e sutil. A repetição não é maçante, mas bem feita e planejada, delicada e charmosa. Em alguns pontos, é fácil esquecer que trata-se de uma repetição infinita. Resta dizer que “O Feitiço do Tempo” ou “O Dia da Marmota” é definitivamente um filme para assistir antes de morrer.

0 comentários:

Postar um comentário

 

BLOG HORRORSHOW - CRIADO E DESENVOLVIDO POR ARTHUR LINS - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © 2015