Die Welle, Dennis Gansel















“Die Welle” é, de longe, meu filme favorito. Já o indiquei para boa parte do meu círculo social, inclusive para um trabalho de uma amiga do curso de História. Isso é considerável vindo de uma pessoa que quase não gosta de filmes e não tem paciência para assisti-los. 


O filme é alemão e foi filmado no Instituto Marie Curie, em Dallgow-Döberitz, na Alemanha. Foi baseado no livro The Wave (A Onda, em tradução literal, mas sem tradução para o português), de Todd Strasser (Morton Rhue), escrito em 1981, que por sua vez foi baseado em um experimento feito por Ron Jones, numa escola em Palo Alto, Califórnia, em 1963, chamado “The Third Wave” – uma menção ao Terceiro Reich. O livro tornou-se leitura obrigatória nos colégios alemães. Assim, é muito fácil perceber a importância do enredo ao longo dos anos. Descreverei fatos presentes nos três formatos, porém priorizando o filme, então algumas diferenças simples existirão.


Tudo começa com um professor, Rainer, tentando explicar aos alunos sobre autocracia e sobre o Terceiro Reich. Alguns alunos questionam a inteligência e o bom senso dos alemães na época de Hitler, afirmando que algo assim não aconteceria novamente. Para provar seu ponto, Rainer inicia um experimento, tendo como objetivo eliminar a ideia de democracia. Ou seja, eliminar o pensamento individual.

O roteiro segue as datas de uma semana comum. No primeiro dia, segunda-feira, o professor muda as carteiras de lugar e posiciona os alunos de acordo com suas notas, um com notas boas e outro com notas ruins, para que possam se ajudar. Então ensina mecanismos básicos de autocontrole, como postura, respiração, fala, e estabelece algumas regras simples, como levantar-se para falar. Também estabelece que todos devem usar apenas camisas brancas e calças jeans. Fazem também uma marcha sincronizada (com o objetivo de atrapalhar a aula sobre Anarquia na sala do andar de baixo) e Rainer estabelece que deverá ser chamado apenas de Herr Wenger (seu sobrenome e o prefixo Herr, equivalente ao nosso “Senhor”).

Na sequência, criam um nome para o movimento (Die Welle), uma saudação e um símbolo. Os princípios são: “Força através da disciplina. Força através da comunidade. Força através da ação.”, que são reforçados pelos membros mais e mais a cada dia.

A partir desse momento, começamos a conhecer melhor os personagens. Mona não gosta da falta de individualidade a acaba transferindo-se para a aula de Anarquia. Karo é uma garota certinha que também não gostou da padronização e no dia seguinte aparece sem a camiseta branca. Seu namorado, Marco (que, por alguma piada infame, é jogador de Polo Aquático), participa abertamente do movimento. Um aluno pobre não tem dinheiro para comprar uma camisa branca e um aluno rico, Kevin, que havia hesitado no momento de decisão, compra uma para ele. A solidariedade e o espírito de equipe começam a aflorar.

Três alunos com o perfil “bad boy” típico também causam problemas, mas acabam aderindo ao grupo. Tim é um dos típicos “excluídos” e a mudança no comportamento de todos é percebida quando os “bad boys” o defendem. Isso faz com que Tim se envolva mais no projeto, por ser finalmente aceito como parte de algo. Até que se oferece como Guarda-Costas de Rainer, que recusa.

Nesse ponto, podemos comparar a história verdadeira com o filme. Em 1963, o movimento não tomou grandes dimensões e o professor foi responsável o suficiente para interromper o problema quando percebeu seu crescimento. No filme, por ser um filme e ter uma tendência a impressionar os espectadores com resultados drásticos, o ego de Rainer fica no caminho e ele continua com o movimento sem problema algum.

Dia após dia, o movimento vai crescendo, de boca em boca, marca em marca. Karo e Mona montam um grupo de oposição, que obviamente não funciona. O movimento toma a escola e vai em direção à cidade. Assim, quem não fizesse parte d’A Onda, não seria popular. O filme mexe muito com a dinâmica adolescente de todas as escolas do mundo, com os nerds, os populares, os excluídos, todos os grupos clássicos. A Onda os torna um só.

Devo informá-los que o final do filme, felizmente, não é o final real. O filme todo acontece em apenas uma semana. O experimento real durou apenas cinco dias. Jones desistiu no quarto dia porque percebeu que tudo estava saindo de seu controle. O experimento social foi pouco documentado na época – diferente de “Blue Eyed”, um documentário sobre o racismo nos Estados Unidos.

O objetivo dos professores, tanto do professor do filme, Rainer Wenger, quanto do professor real, Ron Jones, e do professor do livro, Ben Ross, foi cumprido. Eles mostram como é fácil para uma sociedade cair em uma armadilha política, mesmo que ela tenha o mínimo de planejamento prévio. Mostra como o governo, seja ele qual for, pode enganar uma população, ou apenas induzi-la a se enganar sozinha usando psicologia de massas.

Heil Herr Wenger!

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