Entrevista - Professor Jacyntho Lins Brandão





O professor Jacyntho Lins Brandão, é professor titular de língua e literatura grega do departamento de Letras da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Autor de várias obras, entre elas, seu último livro "Em nome da (in) diferença" publicado pela editora Unicamp. Além de artigos como: "As musas ensinam a mentir", "A Grécia de Machado de Assis" e livros: "Que venha a senhora dona", "O fosso de Babel", "A invenção do romance" e "Arqueologia da Ficção". O professor Jacyntho acumula mais de 200 publicações entre livros, artigos, capítulos de obras, textos em jornais e revistas e outros. 

Fizemos algumas perguntas sobre o processo de escrita e o Professor Jacyntho nos alegrou e surpreendeu com suas respostas.


Quais são suas inspirações? Como/De onde surgiu a ideia primária para o livro?

Não sei se em termos de estudos compete falar em inspiração. Na verdade, um assunto puxa outro e novos temas vão atiçando a curiosidade. Eu cheguei no tema do meu último livro - "Em nome da (in)diferença" - por vir trabalhando o segundo século d.C., no mundo grego, o qual me parece uma época interessante na medida em que prepara a passagem da Antiguidade para a hoje chamada Antiguidade tardia. O que em geral acontece é que, a primeira produção cristã surgindo nessa época, os helenistas dão a ela pouca importância, do mesmo modo que os que trabalham com a história do cristianismo pouco se importam com o mundo antigo em que essa produção surge. Eu quis atar as duas coisas, a partir do pressuposto de que os escritores cristãos gregos pós-antigos são, antes de serem cristãos, gregos pós-antigos. O que não poderia ser de outro modo.

Tomar o mito como o fio da leitura e verificar seu tratamento nos chamados apologistas foi uma opção intencional, pois é nas apologias que o diálogo com o entorno acontece. Isso tem como consequência valorizar aspectos desprezados pelos historiadores do cristianismo em geral - o fato, por exemplo, de que jamais nenhum dos autores cristãos duvidou da existência dos deuses antigos, apenas reclassificando-os como "daímones", o que explorei bastante. Para entender isso criei essa categoria da (in)diferença: tanto às vezes se diz "sou diferente", quanto, outras vezes, "não sou diferente"; tanto às vezes se encena consideração, quanto outras vezes indiferença. É preciso um certo esforço para perceber como as situações de negociação cultural são complexas e, a partir disso, ler os textos sem transportar para eles categorias (como a de religião) que são alheias a seu tempo e ambiente.

Como foi o processo de publicação?

Eu tenho o seguinte método quando se trata de publicar algo. Boto os originais num envelope e mando para editoras que me parecem que podem se interessar. Gosto de fazer isso, porque assim o trabalho passa pelo crivo da editora, ou seja, passa por uma avaliação de quem, inclusive, entende de livros pelo viés da recepção. Hoje em dia é relativamente fácil conseguir financiamento das agências de fomento para publicar. Mas eu nunca fiz isso. Acho que se o livro é avaliado como bom, a própria editora deve demonstrar seu interesse bancando a publicação.

No caso de "Em nome da (in)diferença" tive a sorte de ser acolhido pela Editora Unicamp, que me deixou muito bem impressionado por seu profissionalismo. O livro foi aprovado para publicação em dezembro de 2013, em fevereiro de 2014 começou sua preparação - a preparadora de texto foi eficientíssima - e em agosto já estava tudo pronto.

Que conselho você daria aos novos escritores e aspirantes?

Primeiro, escrever. Segundo, escrever com calma e dar-se mesmo o tempo de ficar com a cria na gaveta para mexer nisso, naquilo, reler, perceber o que falta, polir. Isso, mesmo sabendo que "a vida é breve, a arte longa" e que nunca se fará algo absolutamente perfeito. Publicar, em qualquer gênero, é cultivar a arte da imperfeição. Mas não se pode fazer algo menos imperfeito aplicando-se ao trabalho intelectual o ritmo alucinado que se quer impor a tudo hoje em dia. O produtivismo não é só um veneno para a qualidade, é um veneno para a própria produção. A pretensão de quem escreve não deve ser publicar (que hoje é algo bastante fácil), mas publicar algo (ainda que imperfeitamente) bom.

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