O Demonologista, Andrew Pyper



Quando vi o livro anunciado, seguido da frase clássica “o maior trunfo do diabo é fazer você acreditar que ele não existe”, minha principal intenção foi tê-lo. Nem precisei da declaração conjunta afirmando que a obra era um misto de O Exorcista com O Código da Vinci. O livro convenceu pela sua premissa e, ao ler, reparei que ele entregou muito mais. Andrew Pyper, em seu sétimo título publicado, conquistou um lugar de destaque na mídia americana recentemente e eventualmente esse sucesso se espalhará. Se tenho certeza? Ah, tenho!

David Ulman é um professor universitário especialista no poema Paraíso Perdido, de John Milton, pelo qual tem um apreço enorme. David se dedicou durante toda sua vida pregressa ao estudo do poema e às suas diversas interpretações. Uma noite, David é procurado por uma mulher, que não se apresenta ou se explica, e é convidado a ir a Veneza presenciar um fenômeno. Apesar da “mulher magra” dar passagens, reservas e um cheque, ele não recebe instruções sobre o que o trabalho é. Nenhuma sequer. Por causa seu divórcio em andamento, David resolve aceitar o convite da “mulher magra” para que o trabalho pelo qual fora contratado possa ser utilizado como uma viagem para ele e sua filha, Tess. No caminho a Veneza as coisas já começam a ficar mais estranhas. Um senhor no avião, com quem David tem uma conversa anormal, some no lavabo, por exemplo. Ainda assim, David, um cético para todos os fins, tenta aproveitar o máximo da viagem com Tess até que ele presencia o que vem a ser o tal fenômeno e todo seu ceticismo é derrubado imediatamente. Vou tentar não entrar muito em detalhes pois a história tem seu trunfo principal nos pequenos e constantes acontecimentos, mas o plot principal é a tentativa de David de resgatar sua filha, que aparenta estar sendo cativa no limbo por um demônio.

Pyper tem um estilo de narrativa muito curioso. Com ênfase nas ações ocorridas, suas descrições são curtas, porém muito eficazes. Em uma linha de texto, ele consegue descrever um quarto de hotel, mas as cenas acontecidas nesse local na sequência criam um ambiente inteiro, como se o acontecimento determinasse o local e não o contrário. É como ler um filme. O livro é muito bem equilibrado entre ação e suspense, com um terror constante em cada página. O principal combustível na busca do professor é o amor que ele sente pela filha e, como não poderia deixar de ser, entre ação e suspense, há também muitas situações onde fica clara a união tão pura que existe entre David e Tess. Como em um bom livro de terror, há muitas possessões descritas e, ao imaginar as cenas acontecendo, me surpreendi com a familiaridade que o enredo tem com clássicos do gênero. Isso me indica que uma adaptação cinematográfica desse livro não só é provável, como, acredito, será muito disputada.

Embora comparado aos dois sucessos citados, O Demonologista tem seu mérito próprio, e a afirmação que seria uma espécie de “filho” das duas obras não é totalmente acurada. Lógico que algo que trate da imposição demoníaca na vida de um humano faria lembrar O Exorcista, mas, ao contrário da obra de William Blatty, encontramos aqui um propósito crível e associável com a realidade por parte da entidade que assola o professor. Vou deixar essa intenção ser descoberta por você, durante a leitura.

Esse livro foi publicado no Brasil pela editora Darkside e, como não poderia deixar de ser, numa edição linda! Capa com efeito de camurça e símbolos em relevo dão ao livro um aspecto antigo e as cores, vermelho com muito preto, um aspecto sombrio. A edição também tem ilustrações de, não podia ser de outro, Gustave Doré no verso das capas.

Andrew Pyper escreveu algo que tinha muitas chances de cair no clichê, mas conseguiu ser, com maestria, original e inovador. Ler esse livro dá ao leitor a sensação de que nem todas as histórias clássicas, como as sobre demônios, estão “gastas”. Ainda há um terreno muito vasto a ser explorado e Pyper parece ser um excelente explorador! Enquanto isso eu fico aqui, ansioso, esperando pela sua próxima colheita.

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