O Caminho do Poço das Lágrimas, André Vianco


Um verdadeiro tratado sobre o amor e a sensibilidade sem o ranço do excesso de melodrama, essa é a linha condutora da aventura de Jonas e seus filhos, Ingrid e Bosco, por uma estrada nada auspiciosa e muito reflexiva. Considero essa a obra mais profunda de André Vianco por três motivos: pela leveza com que o assunto é tratado, pela generosidade com que o público alvo é compreendido e principalmente pela sutileza com que a história se desenrola.

Jonas e seus filhos adormecem no carro durante a noite numa estrada deserta, e ao acordarem, se deparam com um longo campo verde. O carro desapareceu e o único caminho é um formado por pedras, que segue a perder de vista, apenas uma placa lhes informa: “Caminho do Poço das Lágrimas”. Este caminho longo e árduo é também repleto de reflexão, encantamento e grandes questões. Este livro é o 13º romance do escritor e as metáforas apresentadas levam a reflexões que englobam os assuntos mais complexos tratados com leveza, é possível se perguntar acerca da morte, da forma como vivemos e como devemos viver. O primeiro dos pontos, (o da leveza da narrativa) que acredito ser o ao lado da sutileza do autor, o mais interessante na obra, se revela nas conversas e situações compostas por temas de grande densidade mas que conseguem sobreviver tão sutilmente e com tanta simplicidade que parecem ter surgido naturalmente, como numa simples conversa entre amigos.

Outro ponto é a maneira como o público alvo do escritor é tratado, por ser direcionado a um público infantil, era de se esperar, dada a qualidade do que genericamente se produz para jovens e crianças no Brasil, que o texto fosse raso e considerasse aqueles para quem se escreve, pouco capazes de alcançar questões comumente postas por adultos, ou melhor: adultos reflexivos, mas não é o que ocorre, o escritor parte do pressuposto que seu público alvo pensa, reflete e se questiona sobre o mundo ao seu redor. A própria arte que integra o livro, capa e ilustrações internas, transmite em minúcias e detalhes uma experiência de leitura muito interessante, remetendo o leitor a outras obras como Wonder Struck de Brian Selznick.

Por fim vale ressaltar a sutileza e a fina escrita do autor, no momento em que narra a trajetória do grupo em busca de algo que nem eles mesmos parecem ter consciência ao certo. Chegam ainda assim ao final de sua trajetória, um final surpreendente e com a demonstração do amor mais derradeiro. No início da saga os personagens estão tentando com certo desespero chegar ao carro de onde acreditam terem se distanciado, para então voltarem para casa. Porém Jonas, o pai das crianças, sabe que algo fora do normal de sua experiência fenomenológica cotidiana está acontecendo. Este segredo é guardado até as últimas páginas do livro e tudo parece indicar que o final será um óbvio encerramento hollywoodiano. Talvez seja justamente neste momento que Vianco se sobressaia como escritor infanto-juvenil, pois a apoteose da história é assustadoramente sincera e verossímil ao que um pai que ama os filhos é capaz de fazer.

Quando a dona aranha nos encontrar
Lembre que ela sempre vem pra nos carregar
porque todo mundo tem uma hora de partir
E pelo poço das lágrimas nos vamos passar

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