The Kings of Summer, de Jordan Vogt-Roberts


Why live when you can rule?*
Essa frase, que eu não me permito traduzir, reproduz com exatidão o sentimento de liberdade presente no trio protagonista de The Kings of Summer. O filme, produzido, dirigido e atuado como comédia, consegue ser tão mais que isso que assusta. Com um elenco não muito comum para o que gosto de chamar de “filme-poesia”, temos Allison Brie e Nick Offerman, conhecidos por suas atuações em sitcons.

The King of Summer conta a história de dois amigos, Joe e Patrick, que se sentem oprimidos pela vida que levam em casa. Joe é o caçula do solteiro Frank e vive sozinho com o pai, já que sua irmã está na faculdade. Frank sente necessidade de organizar e controlar cada passo do filho, levando os dois a um clima de constante tensão e desconforto, já que Joe não é muito propício a receber tais ordens. Patrick tem uma vida comum. Até demais! Seus pais são extremamente otimistas e nunca o levam a sério, tratando-o como criança e exagerando em seus cuidados. Eles dois, então, decidem ir viver sozinhos, se tornando os homens que pretendem ser. Eles decidem construir uma casa no meio da floresta, e tomar para si a vida independente que almejam.


No começo dessa resenha falei em “trio de protagonistas” e até agora só falei em dois. Pois o filme é basicamente assim: do nada o terceiro aparece. Biaggio é uma criança exótica, e isso é eufemismo. Ele aparece pela primeira vez durante uma festa na praia, onde fala em sussurros e encara os demais, e daí segue-se a ideia de Biaggio: aconteceu dele estar ali. Resumir o menino assim parece duro, mas é verdade e acaba sendo vital. Biaggio é aquela pessoa que não se sabe de onde veio, mas no fim, ninguém consegue imaginar como teria sido sem ele. Os três constroem a casa e se proclamam reis de suas próprias vidas, mas como nem tudo é fácil assim, os problemas aparecem e, cada vez mais unidos pela amizade incomum, eles os resolvem, seja uma chuva quando não tem telhado ou a disputa pela garota bonita.

O filme é ambientado em uma calmaria quase táctil. Iluminação forte e tons pastéis nas cores relembram o verão do título em cada cena. Há certo abuso do recurso de câmera lenta, mas combinado com a trilha sonora fantástica e com as cores já citadas, criam um clima de serenidade, de afeição. Nesse ponto você provavelmente já esqueceu que é uma comédia, mas o humor está ali o tempo todo. O filme tem piadas bem dosadas e bem colocadas, que não farão o espectador gargalhar, nem sentir falta disso.


The Kings of Summer conta mais que a história de crianças revoltadas sem causa. O filme fala sobre as peculiaridades que tornam cada um, um. Fala sobre heroísmo, quando, metaforicamente colocado na tela, alguém precisa se arriscar por outra pessoa com a qual se importa, mesmo que isso envolva uma certa dose de sinceridade como em "lembra que eu falei que faria de novo? Esquece tá?". Fala sobre perda, aceitação e, acima de tudo, é a mais sublime homenagem à amizade. Através de situações não comuns, já que a maioria não se revolta e vai morar na selva, desperta no espectador sentimentos familiares de proteção e companheirismo. Recomendo assistir com os amigos e não ter vergonha de abraça-los ao fim, se sentir vontade. A propósito, você sentirá.

*Ok, traduzo sim: “Por que viver quando você pode reinar?”

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