O Lado Bom da Vida, de Matthew Quick


Fecho os olhos, murmuro uma única nota e conto silenciosamente até dez, esvaziando minha mente.
Possivelmente O lado bom da vida é um dos livros cuja leitura mais me agradou na vida, sem exagero. Quando o li, achei que não iria me empolgar. Pensei que era mais um romance clichê, mas terminei em apenas uma noite e fui dormir com muita coisa na cabeça. A história de Pat é comovente, exaustiva, louca, absurda e ferozmente hilariante.

Pat ficou internado em um "lugar ruim" (clínica psiquiátrica) por um longo período. Ele não tem ideia do por quê que esteve lá e só pensa em rever sua (ex-) esposa, Nikki, que pediu para que ficassem um "tempo separados". Toda a mente de Pat é afetada pela estadia na clínica. Ele adquiriu o hábito de malhar sem cessar, para que Nikki o ache mais atraente quando o reencontrar, e ele passa a ser menos pessimista e a enxergar melhor o lado bom de tudo que o rodeia.

Quando volta à sociedade, o primeiro choque é sentido ao notar que todos os seus amigos estão casados e a maioria com filhos, suas fotos do casamento e de Nikki sumiram, sua relação com seu pai vai de mal a pior e nada da Nikki dar sinal. Ele passa a dedicar-se ainda mais aos exercícios físicos e à leitura de clássicos como O grande Gatsby, para que Nikki veja o quanto ele tem se esforçado para agradá-la quando o "tempo separados" terminar.

Durante um jantar organizado por um amigo, ele revê Tiffany, uma antiga conhecida e agora viúva, e, do que logicamente nunca sairia uma amizade, nasce um grande amor. A relação desequilibrada de Pat e Tiffany dosa toda a narrativa de Quick. Pat e Tiffany são tão opostos e ao mesmo tempo tão iguais que podem ser comparados com duas peças de um mesmo quebra-cabeça.

Pat é tão otimista que chega a irritar; para ele a vida é como um belo filme, em que estamos determinados a fazer os outros felizes, menos quando toca Kenny G. Ao menor som de sua música, Pat vira um monstro, agressivo e quebra tudo o que (ou quem) estiver em seu alcance. Tiffany é arrogante, agressiva, pessimista e viciada em sexo. Como um casal assim poderia dar certo? Resposta simples: a loucura dos fatos.

Aos poucos, Tiffany vai ajeitando sua loucura em Pat, e ele vai fazendo-a compreender o quão únicas são as nossas vidas, e que precisamos consertar nossos erros e acertar nossos passos. Mesmo em sua instável relação paterna, Pat procura dar privacidade e palavras carinhosas. Seu psicólogo, Cliff, o ajuda em seus momentos de conflito e passa a ser um bom amigo. Com sua mãe não é diferente, ela é seu porto seguro. Mas seu irmão é seu maior exemplo, ele quer ser como ele, quer viver como ele, é seu melhor amigo e maior conselheiro. Mas Nikki ainda o rodeia, inferniza e consome seus pensamentos.

A trama se desenrola com facilidade, não há muito mistério a não ser o que Pat fez para ir parar no "lugar ruim", e logo isso também é esclarecido e, aqui entre nós, estarrecedor. Provavelmente você e eu teríamos tido a mesma atitude que Pat no calor das emoções. E iríamos parar no mesmo lugar em que ele parou. Só não sei se sairíamos de lá com a mesma perspectiva de vida. Eu sei que eu não.

O lado bom da vida nos traz lições grandes de vida, frases carregadas com um profundo sentido de existência, incluindo uma forte tendência de fé em Deus. Pat apega-se a Deus com lindas orações em seus momentos de tristeza, e pede a Ele para lhe dar ânimo, mantém uma sincera amizade com Ele de fato.
Você é onisciente. Eu O amo, Deus.
No fim, Pat descobre toda a verdade e isso o destrói, principalmente por descobrir de uma forma que, aos seus olhos, pareceu uma traição de Tiffany e sua mãe. Ele precisa perceber que o "tempo separados" nunca irá acabar. E que ele já aprendeu qual é o lado bom da vida. E isso deve o bastar. E deve ser assim com nós.

Nós temos amigos, família, amor, inteligência, condições e tantas outras coisas que, assim como Pat pensa, Deus nos concedeu. Isso deve nos bastar; nós ainda precisamos descobrir quais são os lados bons de NOSSAS vidas, não apenas saber o lado bom da de Pat.
Eu preciso de você, Pat Peoples, eu preciso de você para caralho.

1 comentários:

  1. ótima resenha :D

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    Obrigado

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