Nota Falsa, Léon Tolstói





De Leon Tolstói, um dos grandes mestres da literatura russa do século XIX, Nota Falsa é uma das obras menos conhecidas do autor. Dividida em duas partes, Nota Falsa traz na parte primeira uma série de problemas gerados por um pequeno e aparentemente simples e ingênuo ato de Mitia, à saber, falsificar uma nota para pagar sua dívida com um amigo. Sem imaginar, porém, que essa atitude seria a catalisadora de uma série de eventos que ocasionariam violência e morte. A parte segunda conta a história de Stepán, que encontramos deitado na sarjeta e que, mortificado por um montante de remorsos, sente-se completamente prostrado e sem vontade de fugir, acabando, por conseguinte, preso. Sua jornada de arrependimento, de enfrentamento dos fantasmas e maldições do passado começa na cadeia e, assim como no caso de Mitia, seus atos acabam desencadeando uma série de ações outras que ganham proporções maiores e chegam a influir no destino do Czar russo. 

A obra é uma das últimas escritas pelo autor e, além de poder ser compreendida como uma espécie de demonstração do “efeito borboleta*”, observado no fato de que em ambas as partes da obra são simples gestos ou atitudes que modificam o destino de inúmeras pessoas, também é possível compreender a obra como uma reflexão que traz críticas a religião e ao ser humano. De certa maneira, a narrativa é uma maneira de Tolstói apresentar sua crença na capacidade do ser homem de encontrar o melhor caminho. 

Na primeira parte é interessante perceber como um “pequeno ato” desencadeia tantos eventos que culminam em roubos, mortes, trapaças, fraudes e na prisão de Stepán. É possível refletir profundamente sobre o que chamamos aqui de “pequeno ato”, que neste caso específico se trata de uma atitude desonesta, porém, a questão se faz presente: e se fosse uma atitude nobre? Ou uma iniciativa produtiva? Quais seriam os resultados? Podemos refletir profundamente sobre a bondade e sobre a ação moral humana. 

Na sequência, ou parte segunda, em que se narra a conversão que Stepán sofreu pela ação de Mitia, encontramos mais elementos para pensar que Tolstói usou da maldade ou da inconsequência para fazer uma espécie de “moral negativa”, ou seja, dizer sobre algo que não se deve fazer, para assim demonstrar o que é o certo. Stepán somente conseguiu romper com o ciclo de desventuras por ter se convertido a religião ou, mais especificamente, a um cristianismo muito interiorizado. O próprio Tolstói converteu-se ao cristianismo, porém sem aceitar qualquer forma de autoridade religiosa. Mas até a conversão do personagem incita uma série de ações e eventos que perpassam por; desde uma tentativa de assassinato do Ministro russo a um momento de reconciliação de Mitia com seu pai, este último inclusive que pode ter sido, por sua intolerância com o filho, o causador de todo mal na obra. Tolstói morreu sem terminar o livro, de modo que o que temos é um texto póstumo que, mesmo não tendo sido completamente concluído, demonstra a genialidade e a beleza do processo de criação deste grande escritor.

*Referente à Teoria do Caos que posteriormente se tornou título de um filme - O Som do Trovão - no qual o bater de asas de uma borboleta pode alterar o curso da existência.

0 comentários:

Postar um comentário

 

BLOG HORRORSHOW - CRIADO E DESENVOLVIDO POR ARTHUR LINS - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © 2015