Her, Spike de Jonze


Que surpresa mais agradável 2013 poderia me proporcionar! O mundo cinematográfico, muitas vezes, pode ser comparado a um grande palheiro, onde cada palhinha é apenas mais um filme com as mesmas fórmulas de sempre. Mas nem tudo está perdido; se você olhar com cuidado achará uma agulha. Her é uma dessas agulhas. Tão brilhante, lapidada e afiada como uma agulha pode ser. E se você deixar, ela te espetará com audácia, só para deixar a sua marquinha durante uns dias.

Pode ser um futuro distante, ou poderia ser amanhã mesmo. Quem sabe se já não existe um sistema de inteligência artificial tão humano quanto Samantha, só esperando para ser lançado? O futuro está à nossa frente, mas ele sempre chega. Samantha é uma invenção primorosa de cientistas loucos, ela é, literalmente, uma voz. E existe um homem que se apaixona por ela. Mas eu pergunto, quem não se apaixonaria pela voz sexy e levemente rouca da Scarlett Johansson? Pois é, como o título sugestivamente nos diz, ela é o par romântico de um amor incomum. Ou incomum para os dias de hoje.


Mas Samantha não é apenas um voz, Samantha é um reflexo e um espelho ao mesmo tempo. Um espelho de nós mesmos e um reflexo do que nos tornamos (ou tornaremos). Ela representa, senão, uma sociedade que afasta-se fisicamente uns dos outros, que torna as relações líquidas, voláteis, mas, ao mesmo tempo, a relação mostrada parece subir a um nível transcendental de ligação que consegue facilmente ser superior, em níveis subjetivos, a inúmeros relacionamentos entre humanos. É um verdadeiro caso de amor entre homem e máquina. Na verdade, o filme nos diz muitas coisas, mas o que foi mais importante para mim é que esse espelho reflete o medo de nós mesmos. O medo das máscaras que criamos diariamente, o medo de sermos rejeitados, o medo de que nosso mal hálito acabe com nossas amizades, que nosso dinheiro não seja suficiente para pagar um encontro. Que não sejamos suficientes. Então criamos meios para burlar isso. Criamos Samantha.

Her é uma joia, tanto por seu roteiro interessante, quanto por sua fotografia encantadora e sua bela trilha sonora, que, às vezes, eleva a cena a um nível extraordinário de beleza. Eu poderia citar vários momentos audiovisuais, mas eis o meu preferido: a fotografia. Quando assistir (você saberá quando), sinta esse momento. É mágico.


Esse filme tem muito disso: mágica. Muitos momentos passam a sensação de transcendentalidade; acredito que a película tenha sido arquitetada para dar essa sensação, seja na trilha sonora calma e com leve toque de nostalgia, ou na paleta de cores com tonalidades agradáveis e relaxantes. Tudo foi criado para que o filme seja sentido, seja completamente palpável, porque ele pode ser nossa realidade um dia. Ou simplesmente porque ele representa nosso sentimento mais humano e mais utópico: o amor.

Eu não estou certo se ler uma resenha de Her antes de assisti-lo, ainda mais uma resenha interpretativa como a minha, será legal. Isso porque o filme o faz pensar bastante. Ele ficará na sua cabeça por um bom tempo, garanto. Ler algo sobre ele é como estragar um pouquinho a surpresa, talvez tire um pouco da beleza, não sei. Espero que você não se importe, mas eu acho que me importaria. De qualquer forma, esse diamante cinematográfico é parada obrigatória, e cai bem em quase qualquer circunstância. Seja só para se emocionar um pouquinho ou para fazer perguntas sobre a vida. As vezes, precisamos de um ou de outro.


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