A Menina que Roubava Livros, Brian Percival




Como uma cordilheira de escombros, assim me sinto ao terminar de assistir "A menina que roubava livros".

O longa, adaptado da obra homônima de Mark Zusak, dirigido por Brian Percival, é algo inebriante. Com cenas melancólicas e sombrias, o enredo envolve o público com uma simplicidade não encontrada facilmente nos dias de hoje. Diferente dos filmes sobre guerras habituais, nele não há necessidade de tiros e bombas explodindo o tempo todo, os diálogos e a comoção já deixam claro que aqueles personagens estão em meio à uma batalha, não só no sentido visceral da palavra, mas internamente com seus ideais.


A história (graças a Deus!) continua sendo narrada pela Morte, assim como no livro. Mas aqui ela é um homem, o que me decepcionou um pouco, porque sempre imaginei o personagem meio feminino e com uma voz rouca de exaustão. A voz rouca está presente, mas a exaustão está longe de acabar, são almas demais para se carregar durante a Segunda Guerra, a Morte não tem tempo para descanso. Mas resolve nos contar a história de Liesel, uma garotinha entregue a pais de criação, devido ao fato de sua mãe ser uma comunista.
Rosa e Hans Hubberman recebem Liesel em um dia frio e tempestivo. Rosa é a mulher dos punhos de ferro, saumensh. Já Hans é o homem dos olhos de prata, sempre com um sorriso e um acordeão para tocar. O único amigo de Liesel acaba sendo seu vizinho, Rudy Steiner, um alemão que quer ser negro, como Jesse Owens.

O clima do filme é do princípio ao fim propício a choros, lágrimas que tentarão escapar de seus olhos de uma forma ou de outra. A atriz Sophie Nélisse nos transmite uma serenidade desconhecida da personalidade de Liesel, no livro temos uma menina muito mais nervosinha, aqui ela é calma e sentimental, o que gerou um tom absurdamente gostoso para suas cenas conjuntas com Ben Schnetzer, nosso amado judeu fugitivo Max. Mas quem roubou meu coração foi Emily Watson, com uma interpretação digna e comovente no papel de Rosa, a mulher mais boca suja da Alemanha. Suas cenas são desenhadas com uma verdade que só uma mãe pode passar, no longa a relação entre mãe e filha é algo que nos faz sorrir e encher os olhos d'água instantaneamente.

Outro pequeno notável é Nico Liersch, o eterno garotinho de cabelos cor de limões, Rudy. Aliás, a cena final (e ÉPICA) é de cortar o coração. Como toda adaptação, cenas foram trocadas, retiradas, modificadas e etc, mas o produto final é sim fiel ao livro, o que é de se alegrar.

Um outro ponto magnífico é que os conflitos interiores dos personagens são passados em cada olhar. O amor não correspondido adequadamente de Rudy por Liesel, a fortaleza forçada que Rosa constrói ao seu redor, a indecisão de Hans ao colocar sua família em risco para cumprir uma promessa de anos atrás e a cumplicidade entre Liesel e Max é uma coisa linda de se ver.

Enfim, amei a adaptação, coisa que eu temia não acontecer, e indico para quem quer um drama sem gritaria e romances abusivos. Aqui o que nos comove são as relações humanas colocadas à prova diante de recrutamentos, leis e preconceito. E, claro, diante do Führer.

"A menina que roubava livros" é um filme para se guardar na lembrança.

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